segunda-feira, 29 de abril de 2013

Equívocos

Lembram-se de quando eram miúdos e gostavam de se gabar de coisas parvas? Como os arranhões nos joelhos ou a cicatriz da apendicectomia? (Termos técnicos! Esta mulher dá cartas, man!!! Sexy!!!) Claro que se lembram... ainda fazemos isso, não é? E isto não pára, aviso-vos já! Eu bem vejo os velhinhos todos os dias na sala de espera do serviço a competir sobre quem tem a doença mais grave ou quem toma mais comprimidos. Mas antes dessa fase competitiva deprimente, vem uma outra, também ela, carregada de ânsia pelo título de palerma do bairro. E, embora vos espante, não vou falar do jovem adulto que se gaba das foeiradas dadas ao desbarato. Vou falar da competição pela melhor figura triste realizada sob o efeito do álcool. Tenho o amigo que se gaba de não ter encontrado as chaves de casa depois de uma noite de copos, de ter adormecido na rua à porta do prédio e de ter acordado em conchinha com um cão vadio debaixo do carro do vizinho. Tenho a amiga que dançou eufórica na rua e com gritos histéricos a dizer que estava numa rave de estrunfes, quando na realidade estava no meio do corpo de intervenção da PSP. Tenho a minha avó que se penteou com Raid casa e plantas porque achou que tinha agarrado na lata da laca. Bem, a minha avó não estava bêbeda, mas é velha e senil, o que vai dar ao mesmo. E tenho-me a mim, que um dia cheguei a casa de madrugada e lavei os dentes com Halibut. E aqui estávamos todos, quase empatados, até chegar este fim de semana. O grupo saiu todo junto, copos e cenas, picámos o ponto em todas as tascas, acabámos numa disco duvidosa e pouco iluminada, há uma amiga que se encantou por um preto e lá esteve durante horas a trocar amassos à bruta. Até aqui tudo bem, se o preto fosse feio ela até se podia defender com o ambiente escuro e a consequente limitação da acuidade visual. Mas bonito, bonito, foi vê-la a beijar outro indivíduo da mesma tonalidade, que ficou incrédulo com a troca repentina e mais incrédulo ainda quando ela lhe disse 'Xiii pá! Desculpa aí! Enganei-me no preto....'. Uma salva de palmas para esta mulher que é a minha nova heroína!

domingo, 28 de abril de 2013

Santa inocência

Estava aqui eu a ver a vida dos outros para me entreter antes da sesta. Encanta-me esta gente que vai passear e tirar fotos para mostrar net fora. Agora andam todos a ver o sapato gigante da Joana Vasconcelos ou as estátuas gigantes do jardim do Berardo. Freud ia gostar de estudar este fenómeno, mas já morreu, 'tadinho. Outra pessoa que devia ser estudada é a minha mãe. Eu também devia ser estuda, porque pessoas com dois dedos de testa não misturam mãe e amigos na mesma rede social. E então lá me aparece a Maria a moer-me os cornos no chat: 'Oh filha, com este sol e tu em casa?'. Respondo com respeito, porque mãe é mãe: 'Não comeces...'. Ela insiste: 'Os teus amigos todos a passearem e a mostrarem fotos aqui e tu aí fechada...'. Continuei a responder com carinho: 'Oh merda! Eras mais feliz se eu andasse aqui a pôr fotos minhas ao lado de esculturas gigantes?'. De imediato lembrei-me de coisas boas e sorri, mas não sei porquê, mãe ficou chateada: 'Era pois! Para as minhas amigas também verem o que a minha filha faz aos fins de semana!'. A ignorância é uma bênção e ela ainda não se apercebeu disso.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Um post cheio de cultura

Há dias vi o meu sobrinho a tomar banho. Não, não tenho nenhum tipo de patologia mental a roçar a pedofilia, mas disseram-me que as tias devem assistir a este tipo de evento e fingir que estão a achar muita graça. Ele tem daqueles livros impermeáveis com bonecos para brincar na água. Isso já achei bonito, introduzir-lhes a cultura literária logo desde pequenos. Eu tinha 13 anos quando a minha mãe me pôs a ler "Os filhos da droga". Hoje percebo o objectivo dela: chocar-me com aquele mundo logo desde cedo, para que eu nunca fosse por esse caminho. Mas lembro-me que, na altura, a parte da droga passou-me ao lado e o que me chocou foi a parte da prostituição e imaginar a miúda a meter pilas na boca para pagar o vício. É engraçado como as boas intenções da minha mãe saíram todas ao lado. A verdade, é que se ela me tivesse posto a ler livros sobre hospitais, tinha feito melhor figura e eu hoje podia ser uma esteticista de sucesso e não ter que trabalhar aos domingos e feriados. Ontem foi um desses feriados. Com sol e calor, só para agravar o meu sofrimento. E, claro está, quem se lembra de ficar doente neste cenário, também não deve muito à sanidade mental. Como o casal idoso que tive o gosto de conhecer pelas 18 horas. Vinham eles das celebrações do dia da Liberdade. Vinha ela com uma ferida aberta na cabeça. Vinha ele nervoso porque o Benfica estava quase a começar. "A minha mulher parte coisas. Fica nervosa e depois parte coisas. É muito doente dos nervos, ela. Eu não sou assim, eu só fico nervoso se partir coisas de valor. Ela fica nervosa e parte tudo. Eu só parto porque ela é nervosa e eu fico nervoso". Eu não consigo precisar exactamente quanto tempo ele esteve nisto, até porque estava calor lá fora e eu estava ali contrariada, mas creio que ele lhe partiu a cabeça. Acredito, no entanto, que há ali um amor daqueles a sério, verdadeiro e à antiga. Ainda assim, eu não sou uma pessoa sensível para descodificar e entender as relações amorosas. Juro que tento, mas não tenho o dom. Se calhar, porque a minha mãe nunca me deu um romance para ler. Os poucos que tentei ler, foram durante a escola secundária e acho que nunca acabei nenhum. Todas aquelas histórias davam-me suores, diarreia e pesadelos. Ainda hoje tenho vontade de fazer xixi nas calças quando penso no Eça de Queiroz. Acho que este trauma explica muita coisa na minha vida. Mas, continuando, disse então ao velhote que tudo ia correr bem, que mais um bocadinho iam para casa, e para ele se acalmar porque estava visto que mais dia menos dia, já não ia haver mais nada para partir lá em casa... A velha lamentou chorosa o fatídico destino do serviço Vista Alegre, mas eu estava mesmo a falar deles os dois. Acho que o velho percebeu o que me ia no pensamento, fez um ar desconfiado e perguntou se eu era funcionária do hospital. Eu disse que não, que só ando de bata branca porque gostava que fosse Carnaval o ano inteiro. A minha colega, que ajudava a velha a levantar-se, olhou para mim em estado de choque. A velha também. Ele riu-se, abraçou-me e disse até amanhã. Saíram. A porta fechou-se. Fez-se um silêncio estranho. Ouvi a minha colega dizer que é encantadora a minha facilidade de comunicar com doentes psiquiátricos. Digo eu que é assustadora a afinidade que eles têm comigo. Vou deixar de ler Boris Vian e passar a ler Danielle Steel. No banho. Parece-me uma boa iniciação.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Tendências

Há dias fui ver os meus pais. Às vezes faço isso, não vão eles esquecer-se da minha cara. E até me visto melhor quando lá vou. Faz-se sentir uma pessoa importante, com pouco valor, mas importante. Quase como se fosse embaixadora da boa vontade para uma organização não governamental com fins lucrativos. Uma Catarina Furtado de metro e meio e caracóis, mas com a capacidade de articular frases completas. Vou lá, faço-lhes festinhas na cabeça, eles ficam contentes e eu garanto a herança. Às vezes até me sento com eles e digo-lhes que sim, várias vezes, sempre a sorrir, enquanto eles falam das suas aventuras no campo. Sou um amor. Desta última vez, a minha mãe foi buscar um álbum antigo de fotografias, com fotos de férias de campismo de há 30 anos atrás. Houve uma foto que me fez rir. Eu, com dois anos, a fugir com um melão inteiro nas mãos. Sem a minha mãe dar por isso, roubei a foto. O mundo precisa de provas que eu não me tornei no que sou pelas rasteiras da vida, que as pessoas nascem já destinadas e que há coisas que devemos aceitar, porque são assim mesmo. E eu sou assim. Apesar de achar que estava a agir mal, trouxe-a para casa. Eu tenho a prova. Eu sempre gostei de brincar com a fruta. Mas só com fruta grande. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sestas e sonhos

A minha mãe estava a ver televisão no sofá. Ao seu lado estava um jovem, que nunca vi na vida, em tronco nu. Sentei-me com eles. O gajo começou a apalpar-me as mamas e a beijar-me. Demos a melhor curte que me lembro de ter dado nos últimos cinco anos. Talvez porque as curtes dos últimos cinco anos aconteceram comigo bêbeda. A minha mãe continuava a ver televisão. Adormecemos os três. O meu pai aparece, não gosta do que vê e começa a ralhar. Eu finjo que continuo a dormir. O jovem acorda e foge para a casa de banho. A minha mãe acorda e tenta justificar-se. O meu pai chateia-se e sai de casa. Abro os olhos e a minha mãe começa a alertar-me para a índole do jovem, que ele já andou metido em putas e droga e que não é boa pessoa. Eu respondo-lhe que ela é uma exagerada, que fala como se ele tivesse matado alguém e que toda a gente erra na vida. Digo que não me lembro de onde, mas que a cara dele não me é estranha. Ela ri-se e diz que ele é o agudo da São. Pergunto o que é um agudo. Ela diz que é o ex-marido da enteada. Pergunto quem é a São. Ela diz que é a sobrinha da Marta. Digo que não sei quem é a Marta. Ela diz que eu só me lembro de quem me interessa. Percebemos que o gajo está a ouvir a conversa por trás da porta, chamo-o, ele aparece cheio de eléctrodos no peito e ligado a um monitor, como nos hospitais, e muito nervoso, a dizer que me ia contar tudo da vida dele antes de nos casarmos. Pergunto se é suposto pensar em casamento com alguém com quem dei só uma curte. Ele e a minha mãe respondem que sim. Ele diz que tem pressa e pede-me o número de telefone para agendarmos a foda e oficializar o noivado. A minha mãe não diz nada. Um anúncio da televisão diz que há uma fábrica de salsichas em Vila do Bispo. A minha mãe diz que agora todas as salsichas do país são feitas em Vila do Bispo enquanto sinto alguém a encostar-se ao meu rabo. Olho para trás para ralhar com a minha mãe e dizer-lhe que não precisa encostar-se a mim para me dizer isso, mas quem se estava a encostar era o gajo e a minha mãe estava do outro lado da sala. Ao se aperceberem da minha confusão, gajo e mãe riem-se muito.

E pronto. Pessoas que percebem dessa ciência da interpretação de sonhos, expliquem-me porque é que a minha cabeça mostra-me a minha pessoa a curtir com gajos despidos à frente da minha mãe, fala-me de graus parentescos e pessoas que não existem e terras onde nunca fui, só para me dizer que ando a trabalhar demais? Da falta de sexo já nem é preciso falarmos. Isso devia ser considerado um direito básico de qualquer cidadão!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

No consultório

Olhe Doutor, eu não ando bem. E escusa já de fazer aquela cara que os homens fazem quando uma mulher diz que não anda bem, tipo enjoo repentino, enquanto pensa 'Olha, mais uma que não sabe porquê, mas que não anda bem...', porque eu não ando mesmo bem. Só não consigo perceber é o porquê! Isto é assim, imagine lá o disparate, como se uma pessoa deixasse de achar piada ao sexo. Eu sempre gostei da adrenalina de fazer coisas em locais menos próprios. Sexo também e continuo a gostar muito, graças a Deus, mas as cagadas fora de casa já não são a mesma coisa. Um centro comercial, um festival de verão... o ritual de me proteger de bichos alheios, de não fazer barulho, de não deixar marcas visíveis... de o fazer o mais rápido possível, de não deixar pessoas à espera nem que percebam o que estive a fazer ali fechada... a gota de suor a escorrer na testa, o vestir-me aliviada... Isso mexia comigo. Agora já não. Hoje foi no ginásio. Mulheres a tomarem banho, outras a equiparem-se e eu pumba, toma lá uma bomba que é de graça... mas foi assim... não foi cagar, foi mesmo só deixá-lo cair... sem fogo. Era quase como se estivesse em casa. Sem magia e sem pecado. Uma cagada como outra qualquer. Acho que é como aquele mito dos suecos serem tão felizes, terem tudo, ao ponto de a vida já não ter graça e de parecer que não há nada que os estimule a continuar e depois desatarem todos a suicidarem-se no outono, sabe? É este vazio que me consome. Acho que isto começou desde que me chateei com o meu chefe, roubei-lhe as chaves do seu WC privado e fui lá à socapa arrear uma poia tão grande que dava para garantir os postos de trabalho de uma ETAR inteira durante seis meses. Fazê-lo à pressa, limpar vestígios físicos, sair orgulhosa com a câmara de gás que deixei lá dentro. Foi tão bom. E a cara dele, quando lá foi minutos depois, a sair meio amarelo meio verde, sem perceber se seriam os esgotos que estavam entupidos ou se era ele que estava a morrer por dentro...Até fico comovida só de pensar nisso. Coisas destas só se fazem uma vez na vida, é isso? Sinto que não há mais nada épico que eu possa fazer com a minha merda, percebe? Ando triste. 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Genealogia

Acho curiosas aquelas pessoas que conseguem identificar feições em crianças com menos de um ano. Ainda têm cara de joelho e já essas pessoas conseguem dizer que têm os olhos do pai, as orelhas do avô, ou o sorriso da mãe. Essa do sorriso da mãe, então é a minha favorita. Aconteceu-me há dias, uma ex-colega de curso que apareceu de surpresa, mãe há cinco meses, e que decidiu mostrar fotos do seu menino, ora a tomar banho, ora a mudar a fralda (doentes mentais do caraças!). Todas elas embevecidas e uma lá decide atirar 'Ah... tem o teu sorriso, Patrícia...'. E todas as outras 'Aaaaahhhhh.... pois tem!'. Ora isto já é levar a minha capacidade de auto-controlo ao limite. Eu, que estava a tentar controlar-me, com duas respostas geniais a palpitarem-me nas têmporas, tentando apenas ofender as mulas e não a desgraçada da mãe, que neste momento ainda parece uma vaca a sufocar nas próprias mamas, deixei de parte a pergunta se a mini-pila do puto era parecida com a do pai, não fosse alguma das outras responder que não (ou que sim) e a pobre Patrícia ir para casa a pensar que o marido anda a molhar o bico naquelas bandas e quando dei por mim já um lindo 'Este sorriso de 5 meses é da mãe? Patrícia, tira a prótese dentária já, sua fraude!' saía  da minha boca sem eu querer e cinco olhares de desaprovação caíam sobre mim. Salvou-me a avó da criança, que começou a dizer que o pirralho era a cara chapada dela própria, mostrando uma foto a preto e branco, dela em bebé, tirada numa praia fluvial em 1950. Fui obrigada a concordar, a cara de joelho é de facto uma constante, no bebé, na avó em bebé e na avó em velha. Prevejo um futuro muito negro para este miúdo. 
Já comigo, sempre disseram que eu puxava ao lado do meu pai. Nunca fui capaz de refutar isto, pois o buço que eu exibia aos 15 anos tinha muitas parecenças com o rato albino morto que o meu pai ostenta entre o nariz e o lábio superior. Avós desse lado, só conheci a minha avó paterna, mas não me lembro de ela também ter tido bigode. Pode ser herança deixada pelo meu avô, mas dele pouco sei, nem nunca vi uma foto. É quase como se fosse a personagem 'tabu' na história da família. Só sei que era um bêbado de vocação e morreu com uma cirrose hepática. Prevejo um futuro muito negro para mim. 
E este post podia, também ele, morrer aqui, não fosse hoje ter estado um calor de merda e eu ter corrido o dia todo como uma gazela, porque consegui atrasar-me para todo o lado onde tinha de ir. Acabei de chegar a casa e constatei que podia facilmente criar elefantes e leões no conforto das minhas axilas, tal não é o cheiro a circo que nelas se criou ao longo do dia. A conclusão é mais que óbvia. O meu avô ou era preto ou era monhé. Ou talvez fosse cigano. Vou tomar banho.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Exemplo a seguir

É bonito quando, no nosso local de trabalho, começam a conhecer e a respeitar a nossa individualidade. No inicio, quase tudo aconteceu a medo. Era a ex-aluna que lá tinha estagiado, sem se perceber muito bem se tinha sido escolhida pelo estágio com muito trabalho ou pelos decotes com pouco pano. Tarefa ainda mais penosa, quando se trabalha num meio maioritariamente de mulheres. Mulheres mais velhas. Mais velhas e gordas. Gordas e com buço. Buço e maridos gordos. Maridos gordos que também trabalham com mulheres mais novas. Mas entretanto, os anos passaram e algumas dessas mesmas mulheres começaram a aceitar-me tal como sou. O meu peculiar medo de anões, as minhas actividades de tempos livres, o abraçar as mamas e dar-lhes beijinhos e sussurrar que a mãezinha nunca lhes irá fazer mal quando falam em amamentar filhos, o facto de eu conseguir beijar as minhas próprias mamas. Mais importante que me aceitarem, é o facto de me respeitarem na minha diferença, de preverem reacções, de se acautelarem nas perguntas que me fazem. Tal como a senhora, já avó, que hoje me perguntou 'Como é que se chamam aquelas chouriças pretas que você gosta muito sem serem pilas?'. Foi bonito. Esta senhora merece todo o meu respeito e amizade. Até porque tinha um saco de morcelas para me dar. As outras que se riram da pergunta, 'pá merda mas é! Invejosas.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Um talento que se perdeu na produção cinematográfica internacional

- Muito boa tarde, estou a falar com a Senhora Snail da Silva?

- Olá...! Sim, é a própria. (Olá, vozinha sexy... Snailzinha gosta...)

- Olá. Posso tratá-la só por Snail? Tenho uma oferta para si.

- Depende... Não sei quem fala nem o que me vai oferecer... (Tens um vibrador para me dar, vozinha sexy? E queres saber a que horas estou em casa para me vires entregar a prenda, vozinha sexy? E depois ofereces-te para fazer uma demonstração de todas as potencialidades do equipamento, vozinha sexy? E depois vais fingir que te esqueceste das pilhas, vozinha sexy? E depois sugeres fazer a demonstração com o teu próprio equipamento, vozinha sexy? E depois atiras-me contra a parede, rasgas-me a roupa, babas-me toda, dás-me palmadas e chapadas de pila na cara, vozinha sexy? E depois eu vou dizer que não percebi muito bem e tu repetes tudo outra vez e outra vez e outra vez até eu perceber, vozinha sexy?)

- Fala da TV Cabo...

- Não, não pode. E agora não tenho tempo. Com licença. Plim. (Puta que te pariu.)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Crise conjugal de uma mulher solteira

Este post é uma sincera homenagem a um leitor assíduo deste espaço literário, que há dias lastimou o facto de aqui só se escrever merda em textos demasiado longos. Um dos seus desejos será concedido.


Hoje acordei com vontade de pinar. Passei o dia com vontade de pinar. Cheguei a casa e os meus dedos disseram-me 'vamos tratar disso'. Respondi-lhes que me doía a cabeça. O que eu gostava mesmo era de ter um vibrador. Dormi a sesta. Fim.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Porque eu insisto que sou boa pessoa!

Devo dizer que ando aborrecida com isto. Encarava este espaço como uma relação que se vai construindo em bases cada vez mais sólidas de partilha e compreensão, de amizade e cumplicidade, de dádiva e crescimento pessoal. Aos poucos, tenho aberto a minha alma, mostrando-vos por palavras o melhor de mim. Ora a minha beleza física, ora as minhas inigualáveis qualidades beneméritas, ora a minha aura de divindade. Pois digo-vos que é com grande tristeza que constato que, como recompensa, tenho recebido comentários que variam entre o jocoso, o sarcástico e a má-língua barata e de gosto duvidoso. Ainda assim, e por ser uma alma casta que não conhece o mal, continuo a partilhar convosco estes raios de luz do meu ser. E hoje não será excepção. Hoje vou falar dos alguns dos pilares mais importantes da minha educação. 
Começo com a minha educação católica. Catequese, Bíblia, hóstias, santinhos, terços, procissões, missas e escuteiros. Papei tudo. Sim, já papei escuteiros. Certamente, as almas obscuras já preparam o comentariozinho de mau gosto a perguntar se é por isso que gosto tanto de me ajoelhar para rezar. Poupo-vos o trabalho. Com uma vida tão fortemente marcada pelas tradições religiosas, mas também vincada pela prática regular de exercício físico, mais não se podia esperar de mim a não ser eu ser uma pessoa com a capacidade de se penitenciar fluentemente e sem perder o fôlego em qualquer posição. Em contradição a tudo isto, também fui dotada com uma capacidade ímpar para o estudo das ciências. Matemática, química, biologia ou ciências médicas. As reacções, as atracções dos corpos, cargas e massas, fluídos e calor. Ah, esse fascinante mundo que nos rodeia. 
Claro que tudo isto não é conversa em vão. Como já sabem, tudo acaba por se resumir numa qualquer história que me aconteceu hoje. E hoje tive uma epifania. Hoje presenciei a aparição de uma entidade enviada por Deus Nosso Senhor. Dizia-me ela, o suposto anjo, uma senhora com meia tonelada de massa corporal e cara de morsa, que fuma três a quatro maços de tabaco por dia. Como profissional de saúde, porém ciente da minha missão de espalhar a Boa Nova na terra, disse-lhe que isso era o caminho do mal que termina numa espécie de inferno terreno, com o nome de enfarte agudo do miocárdio. Disse-me ela que não bebe, não joga, não rouba e não fode há mais de dez anos e que, por isso, só lhe resta o poder fumar. Pensei eu, 'com uma fronha dessas não deves ter fodido é nunca'. E de imediato percebi, eu não estava perante um anjo, eu estava perante a Virgem Ana Maria. A Virgem Ana Maria continuou a sua mensagem divina e disse-me que começou só com uns cigarrinhos por semana, mas ao longo dos anos, sozinha, sem homem, sem outros vícios, acabou onde está agora, a fumar oitenta cigarros por dia. A abstinência de pilas levou-a ao excesso de tabaco. Lembrei-me das aulas de química do 10º ano e das reacções reversíveis. Amanhã vou deixar de fumar. Glória a vós, Senhor.

domingo, 7 de abril de 2013

Capacidade geneticamente exclusiva dos homens: estragar um momento bonito

Creio, ou pelo menos espero, que da leitura assídua dos meus textos toda a gente já conseguiu perceber que eu sou uma pessoa extremamente delicada e sensível. Os que assim não pensam serão certamente dotados de uma total inversão de princípios e valores. Como exemplo deste importante traço da minha personalidade, partilho com todos vós a história do dia em que um amigo meu me pediu para sair um pouco com ele à tarde porque precisava de desabafar. Andava com problemas no trabalho e a namorada tinha terminado a relação de longa data. Sendo eu boa pessoa, acedi ao seu pedido. Nessa altura, estava eu à espera dos resultados de umas análises ao sangue, sem saber se seria portadora do beri-beri do sexo. Pois que se estávamos numa de desabafar, e se as verdadeiras amizades são recíprocas, comecei eu por fazê-lo. Lamentei-me de ter sempre o cuidado de me proteger mas às vezes há azares e há coisas que se rasgam. Lamentei-me de não ter planos de vir a ser mãe, mas não poder ser mãe por ser portadora de um desses bicho feios já é outra coisa e, para ele perceber melhor, ainda lhe expliquei que isso é como decidir que não se come mais conguitos. Não comer conguitos porque não se quer é uma coisa, agora tirarem os conguitos do mercado e não se comer conguitos porque não se pode já é outra. Nisto, já era hora de ir para casa e só porque ele não teve tempo de desabafar sobre as coisas dele ficou chateado comigo, chamando-me de egoísta e insensível. Eu, que saí de casa por causa dele, abri o meu coração e fiz uma analogia poética sobre bebés, doenças venéreas e os snacks com amendoim que deram origem à melhor canção da publicidade, a par do 'um bongo' e do 'mokambo'. Eu é que sou insensível?! Não entendo. Mas pois que hoje foi a minha vez de precisar de desabafar e um outro amigo abdicou da sua tarde de domingo para me fazer companhia. Desabafei sobre o que me atormenta e já que ele não tem tormentos de momento, passámos o resto da tarde num banco de jardim a beber uma bodega de um refresco de café e a gozar com os maricas, as gordas com leggings às flores e as moldavas que passeavam carrinhos de bebé com bebés moldavos lá dentro. A meio ainda falámos sobre o meu problema em entrar em lojas chinesas porque não consigo deixar de pensar que estou a dar dinheiro a gente com pilas pequenas, permitindo que estes tenham condições económicas para se reproduzirem no nosso país e disseminarem o gene da genitália diminuta na nossa população. É, para além de sensível, também sou uma pessoa com preocupações sociais e ecológicas. Lembrei-me então que tenho saudades da pila dele, mas pensei noutra coisa para não ficar triste. Uma tarde, portanto, quase perfeita, pelo que decidi despir a minha carapaça de pessoa indiferente e agradeci, com um sorriso sincero, por aquelas duas horas de companhia. Como resposta, tive direito a um "opa, eu estava em casa sem nada para fazer". Pronto. Está certo. Também gosto muito de ti.

sábado, 6 de abril de 2013

Poema

Antes de mais, devo dizer que já bebi três copos de vinho. Não, não abri outra garrafa pelo segundo dia consecutivo. Na verdade, estou a beber o que restou da garrafa de ontem. E não, não estou com problemas com o álcool, continuamos a dar-nos muito bem, mesmo que seja, neste momento, numa relação tipo tântrica com a duração de dias até chegar ao fim da garrafa. Posto isto, o motivo para este mau poema não é a taxa de alcoolémia, é mesmo a falta de jeito. Ou de paciência. Ou o excesso de parvoíce.

Abro esta merda e pergunto:
Blog meu, blog meu,
Haverá mais alguém nesta terra
Ligado à net num sábado à noite para além de eu?

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Ensaio sobre a decadência

Decadente não é beber vinho tinto barato.

Decadente não é beber vinho tinto barato, sozinho em casa.

Decadente não é beber vinho tinto barato, sozinho em casa, no copo do leite.

Decadente não é beber vinho tinto barato, sozinho em casa, no copo do leite, sentado no chão.

Decadente não é beber vinho tinto barato, sozinho em casa, no copo do leite, sentado no chão, com uma papelada do trabalho ao lado.

Decadente não é beber vinho tinto barato, sozinho em casa, no copo do leite, sentado no chão, com uma papelada do trabalho ao lado, que está por ler há dois meses.


Decadente...
Decadente é chegar ao trabalho na segunda feira com a papelada que já se devia ter lido há dois meses toda cagada com nódoas porque se esteve a beber vinho tinto, mas do barato, no copo do leite, sozinho em casa e quase deitado no chão.


Situação em que um homem responder à pergunta 'Portei-me bem hoje?' com 'Essa boca fartou-se de trabalhar.' pode não ser propriamente um elogio:

À saída do ginásio.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Num futuro muito próximo

A preta hoje chegou mais tarde a casa. Não, não estava com saudades dela. Nem preocupada. Estava apenas sozinha em casa. Agora estou sozinha na sala. É como um círculo que se aperta. Já sinto coisas a mexer na barriga. Ela está a acabar o jantar. Virá para a sala, de prato na mão e vai comer calada. Pelo menos, assim espero. Já liguei a televisão para fazer barulho. E vou fingir que estou ocupadíssima a trabalhar em qualquer coisa importantíssima e nem vou olhar para ela. A dada altura ela vai olhar para mim irritada. Vou fingir que não reparo, porque estou concentradíssima a fingir que estou empenhadíssima num trabalho para amanhã. Ela vai perguntar o que foi aquilo. Vou perguntar 'o quê?' como se não tivesse ouvido à primeira. Eu vou tremer. Agora que isto começou, já não consigo parar. Ela vai repetir a pergunta. Vou dizer que é trovoada. Ela vai dizer que não está a chover. Vou dizer que eu também não disse que estava a chover. Espero que não pergunte o que jantei. Só consigo mentir uma vez por hora. Sopa de feijão e carne com feijão. 

Hoje fui às compras...


... pilas tamanho XL instantâneas... E o mundo seria um sítio melhor.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Essa coisa misteriosa que é o universo masculino

Tenho muitos amigos homens. O que dava para fazer aqui um ensaio sobre "A pila portuguesa - Uma análise multi-variada sobre tamanho, forma, cheiro, temperatura, tempo médio de acção, intervalo mínimo entre picos de actividade e amplitude de movimentos nos eixos x-y-z". Mas eu, pessoa sempre informada e actualizada no que respeita a descobertas cientificas e curiosidades sobre o mundo animal, descobri recentemente que, agarrado a cada pila, existe um conjunto multi-orgânico de matéria viva com capacidade de reacção a estímulos. Desde então, tenho feito pequenas experiências e algum trabalho de campo. Com o objectivo de garantir a imparcialidade na análise dos resultados, estabeleci como critério de inclusão 'indivíduos heterossexuais portadores de pila congénita' e como critério de exclusão 'pila já utilizada por mim'. O estudo está em curso desde o início do ano e já consegui a proeza de incluir dois espécimes. 
No primeiro caso, comecei uma conversa sobre um bolo que tinha feito. Ele não me perguntou sobre a proveniência das laranjas, se o açúcar era refinado, a categoria dos ovos, nem se me deu muito trabalho ou não, apenas perguntou se o bolo estava bom e se eu ainda tinha alguma fatia para ele provar. Mas depois, falei-lhe que na noite passada estava aborrecida em casa e pus-me a ver um filme porno. Os olhos dele abriram-se brilhantes, começou a perguntar-me sobre nomes de actrizes e realizadores, sobre as novidades na área, sites de referência, prémios internacionais para portuguesas, mas não me perguntou se no fim aquilo foi bom para mim ou não. Segundo outros estudos na área, estes resultados estão de acordo com o esperado. 
Já o segundo caso foi intrigante. Hoje fui trabalhar de vestido e com uns sapatinhos fofíssimos de borrachinha de uma marca bem conhecida do sexo feminino. Reparei que ele olhava para mim e iniciei a recolha de informação.


Estímulo
Observações
Reacção
Observações

1
O que foi? Nunca me viste de vestido?
Chamo a atenção do macho e espero reacção.
Gosto dos teus sapatos.
Macho pode não ser assim tão macho.

2
Ficam bem com o vestido, não é?
Bamboleio as mamas.
Descalça-te lá.
Macho pode, afinal, ter apenas um fetiche por pés e não gostar de mamas grandes.

3
Depois destas horas todas em pé, isto vai saber bem…
Começo a auto-massajar os pés, sugerindo que ele se ofereça para continuar.
Opa, parecem muito fixes. – agarra nos sapatos e testa a sua maleabilidade.
À medida que os vai torcendo com as mãos, aproxima-os lentamente da cara, provavelmente para os ver melhor.

4
Fixes e super-confortáveis, parece que se moldam ao pés.
Macho parece não ouvir. Tem os sapatos ao nível do nariz.
Não cheiram a cholé. Toma. Calça-te.
?

Dada a complexidade dos dados recolhidos, sugere-se uma colaboração futura com profissionais conceituados nas áreas da psiquiatria, química sexual e psicologia animal.