sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Teste de auto-controlo: prova superada!

Não ter um ataque de riso, nem sequer um tremelicar de voz, enquanto se chama através de um telecomunicador para uma sala de espera de uma instituição pública, por uma senhora baptizada com o nome de Pissi Bambi Titi. 
Damn, eu hoje mereço uma medalha.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Natal dos hospitais

"Linda. Tu és uma mulher linda. O cabelo e os olhos. Linda! Mas onde tu és mesmo linda é aí dentro. Tu és linda no coração."
 
Entre sangue e dentes desfeitos, estas foram as últimas palavras que o homem de pernas engessadas, braços amarrados às grades da maca e nome estrangeiro me disse enquanto o maqueiro arrastava a maca para fora do gabinete. O sotaque deixou-me receosa. Receosa, mas intrigada. Entre a dicção marcada pelo excesso de fluídos orgânicos que saíam em pequenos esguichos vermelhos e que pintalgavam o lençol branco com o logotipo do hospital e a fala arrastada resultante de alguma coisinha na veia para lhe acalmar os nervos, a musicalidade da pronuncia de um qualquer país de leste era ainda evidente. Estaria eu a ser preconceituosa? Seria possível identificar a nacionalidade de um sotaque com todas aquelas condicionantes? O nome Yuri num homem de olhos azuis e roupa de servente das obras teria influenciado o meu raciocínio? Porque estava eu a pesquisar o processo de um doente para satisfazer a minha curiosidade? Efeito de quase vinte horas consecutivas de trabalho? Exacerbação de carências afetivas? O facto de ele ter dito que eu sou linda cinco vezes em trinta segundos terá despoletado em mim alguma reação libido-psicológica? Ele vinha da Rússia? Da Ucrânia? Da Roménia? Da Hungria? Fui ver. Vinha da psiquiatria.
 
 
Um bom Natal a todos.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Diz que este post vai chegar aos 50 comentários (ou então fico triste)

Há umas semanas, em conversa de pausa para café, as mulheres crescidas lá do trabalho falavam disto: como é bonito ser-se independente mas sem o desatino dos 20 anos, de não fazer tudo de cabeça quente, de controlar melhor os impulsos e de viver as coisas serenamente em nossa casa. Nesse dia, chamei velhas frígidas a todas elas. Uma delas limitou-se a responder-me 'daqui a uns tempos, falamos'. E ontem à noite, estava aqui eu aborrecida e pensei: Olha, estou aqui a mamar sushi e vinho tinto feita parva e a olhar para a televisão... isto queria era que eu me passasse dos cornos e fugisse de casa e conduzisse sem destino, desse boleia a gajo lindo de morrer e com uma pila da largura do meu punho, que encostássemos num sítio qualquer e pinássemos até ser dia. Mas depois pensei: Oh filha, deixa-te mas é de coisas que já estás em pijama e fugir de casa quando se vive sozinha é assim um bocado a dar para o estúpido, para além de que tu não conduzes nem tens carro e isso de engatares gajos na carreira 731 da Carris não é boa ideia que ainda te sai um traficante de bairro ou um cliente do traficante, sendo que isto é quase indiferente porque o grau de putrefação dos dentes deve ser semelhante, e quando desses por ti estavas a pinar no campo de futebol do Olivais e Moscavide, e com o frio que está na rua ainda apanhavas uma pneumonia. Desmoralizei um pouco e considerei que o meu plano inicial era levemente megalómano, que os riscos podiam ser realmente elevados, pelo que a minha revolta ficou-se apenas por adormecer no sofá com a televisão ligada e ter acordado sobressaltada de madrugada, gelada, com o nariz a transbordar de ranho, enquanto sonhava com uma pinadela à antiga, daquelas com mamas aos saltos como quando a Bo Derek cavalgava em pelota. Foi assim que acordei no dia em que completo 35 anos. E não, não estou a ficar velha, foi aquela puta que me lançou bruxedo. Parabéns a mim.